UM LIVRO DE VIAGEM ESCRITO POR UM MESTRE DA ARQUITETURA E ILUSTRADO, CLARO, COM CRÓQUIS. O ITINERÁRIO DA VIAGEM DE 1911 INCLUI OS BALCÃS, ATENAS E ISTAMBUL - O TRECHO QUE FALA DAS MESQUITAS DÁ UMA IDÉIA DA BELEZA DO TEXTO.
" É PRECISO UM LUGAR SILENCIOSO QUE TENHA UMA FACE VOLTADA PARA MECA. ELE DEVE SER VASTO PARA QUE O CORAÇÃO SE SINTA À VONTADE, ALTO PARA QUE AS PRECES ALI RESPIREM. É PRECISO UMA AMPLA LUZ DIFUSA A FIM DE QUE NÃO HAJA NENHUMA SOMBRA E, EM TODO O CONJUNTO, UMA SIMPLICIDADE PERFEITA; E UMA IMENSIDÃO QUE DEVE ESTAR ENCERRADA PELAS FORMAS... NADA SE FURTARÁ AO OLHAR: ENTRA-SE, VÊ-SE O IMENSO QUADRADO COBERTO DE ESTEIRAS DOURADAS DE PALHA DE ARROZ, SEMPRE NOVAS; NENHUM MÓVEL, NADA DE ASSENTOS...E NUM SÓ OLHAR VÊEM-SE OS QUATRO ÂNGULOS, SENTE-SE SUA PRESENÇA CLARA E CONSTRÓI-SE O GRANDE CUBO PERFURADO DE PEQUENAS JANELAS, DE ONDE SE ELEVAM OS QUATRO GIGANTESCOS ARCOS DUPLOS QUE OS PENDENTES UNEM; VÊ-SE ENTÃO CINTILAR A COROA LUMINOSA DAS MIL JANELINHAS DA CÚPULA. LÁ DO ALTO PENDEM VERTICALMENTE INÚMEROS FIOS; CHEGAM QUASE ATÉ O CHÃO, COM GANCHOS NA PONTA ONDE SE PRENDEM PEQUENAS LAMPARINAS À ÓLEO, TEORIA CRISTALINA QUE GIRA EM CÍRCULOS CONCÊNTRICOS E PÕE AO ENTARDECER, SOBRE A CABEÇA DOS CRENTES, UM TETO CINTILANTE...
COSAC NAIFY, 2007
TODAS ESSAS COISAS ESTAVAM NA MAJESTADE DE APENAS UMA DEMÃO DE CAL BRANCA. AS FORMAS ERAM CLARAS; A CONSTRUÇÃO IMPECÁVEL MOSTRAVA TODA SUA OUSADIA. ÀS VEZES UMA BASE ALTA DE LADRILHOS ADORÁVEIS PRODUZIA UMA VIBRAÇÃO AZUL."
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